Demitida de 10 instituições, professora Cíntia Chagas agora dá “aula na balada”

  • Por Jovem Pan
  • 10/11/2017 14h13
Johnny Drum/ Jovem Pan

A professora Cíntia Chagas tem um método bastante inusitado para preparar seus alunos para os vestibulares. Depois de ser demitida por 10 instituições, a educadora criou seu próprio cursinho e, para o temido momento da revisão, ela reúne seus alunos em baladas. No Pânico na Rádio desta sexta-feira (10), ela falou sobre a “baladinha com alunos” que teve sua 11ª edição neste ano.

“Os alunos se sentem em uma balada porque tem DJ, o ambiente está escuro, tem chuva de papel laminado e no final tem uma confraternização”, contou Cíntia. Apesar do ambiente descontraído, o motivo da reunião é mais que sério.

“Levo quadro, tem aulas e carteiras doadas e dou uma revisão pesada. Toda a cidade se mobiliza para o aulão solidário”, falou ao explicar que os alunos levam donativos que posteriormente são doados para ONGs.

A última “aula na balada” aconteceu no dia 2 de novembro, em Belo Horizonte. Para a revisão para o Enem, Cíntia fechou a Wood’s e entrou no palco do local ao som de “Sua Cara”.

Ao lembrar do motivo que a fez ser demitida de 10 instituições, Cíntia apontou o seu método diferente como o “responsável”. “Eu dava aula com o funk da crase e o sertanejo da conjunção e muitos alunos queriam mudar pra minha sala. Isso gerava um problema para o coordenador do curso e sempre era demitida”, contou.

Enem 2017

Como não poderia deixar de ser, Cíntia Chagas comentou sobre o tema da redação do Enem deste ano – “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil” – e não poupou críticas ao tema “específico demais”.

“Foi horrível e tenebroso. É um tema que não é abordado durante o ensino escolar e não está em voga nem nas mídias nem nas redes sociais (…) quem estava preparado pra falar disso eram professores psicólogos e pessoas da área”, declarou. “Não estou dizendo que o tema não é relevante. Ele tem que ser discutido, mas não em uma prova que vale o ingresso de quase 7 milhões de pessoas em uma faculdade”, continuou.

Para a professora, o Inep tentou trazer um tema “não controverso”, mas acabou se tornando “inconsequente”. “Quer abordar o assunto? Que se faça em campanhas que vão mudar. Porque essa não é uma maneira de colocar esse tema em pauta”, disparou.

Cíntia ainda disse acreditar que o Enem terá que adotar medidas para remediar a “burrada” que fez com a escolha do tema, já que muitos alunos falaram sobre inclusão dos surdos no sistema educacional.

“O tema não era inclusão do surdo, mas a formação educacional. Inclusão é consequência. Ou o Enem vai ter que baixar a nota porque ninguém vai saber falar sobre isso ou vão ter que rever a burrada que fizeram”, afirmou.

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